Moradores da Favela do Moinho voltam a protestar contra demolições e entram em confronto com a PM – País

Pelo segundo dia consecutivo, moradores da Favela do Moinho interditaram ao menos quatro linhas do metrô de São Paulo, após a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano de São Paulo), retomar a demolição das casas dos moradores.
- Até as 17h as linhas 7-Rubi e 10-Turquesa e 13-Jade, da CPTM e da ViaMobilidade tiveram operações paralisadas.
Segundo a ViaMobilidade, que administra uma das linhas, os manifestantes são contrários à demolição das residências, que estão presentes em um terreno pertencente à União (Governo Federal), cujo projeto é transformar a área numa praça.
Por volta das 11h50 foram colocados pneus e madeiras, que paralisaram temporariamente a circulação das ferrovias. A polícia então entrou no local usando escudos, cassetetes e bombas de efeito moral, e desobstruíram a linha. Ao menos um dos moradores foi atingido por uma bala de borracha.
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A ViaMobilidade disse por meio de nota que a circulação está interrompida entre as estações Júlio Prestes e Palmeiras-Barra Funda, “em razão de ações externas nas proximidades da Estação Júlio Prestes, relacionadas à Comunidade do Moinho”.
Passageiros foram orientados a utilizarem as linhas 3-Vermelha, 7-Rubi e 4-Amarela para acesso às estações Palmeiras-Barra Funda e Luz, por meio dos avisos sonoros chegaram a ser emitidos e assim promover a circulação dos usuários e evitar a área.
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Ao menos quatro linhas do metrô de São Paulo foram interditadas
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Porém, cerca de uma hora depois os moradores voltaram a obstruir outra linha do metrô, dessa vez da CPTM, também ateando fogo em entulhos. Os bombeiros foram acionados para apagar as chamas.
A demolição começou na segunda-feira (12), mas também foi interrompida com manifestações. No processo, cerca de 100 famílias já foram retiradas do local nas últimas semanas, e o uso de um trator foi questionado, pelos riscos de desabamento de casas ainda com ocupantes dentro.
Nesta terça-feira (13), com escolta do Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia), a primeira demolição de uma casa de alvenaria começou por volta das 11h. Fora do cordão de isolamento formado por policiais, os moradores protestaram e exigiram os documentos de autorização das demolições, que não foram apresentados.
A ideia do governo de São Paulo é descaracterizar as casas para impedir a reocupação, já que não existem ‘condições adequadas’ para que pessoas vivam ali. A União diz que a região fica entre duas linhas de metrô, o que inviabiliza moradia.
Qual é a história da favela do moinho?
A Favela do Moinho é cercada por trechos das linhas 7-Rubi e 8-Diamante da CPTM, e foi construída a partir de uma ocupação sob o viaduto Engenheiro Orlando Murgel. O acesso a área só é possível uma entrada atravessada por trilhos, com os moradores tendo de conviver com barulhos e tremores pela passagem constante dos trens.
Ali ficava o chamado Moinho Central, que era uma indústria de processamento de farinha e de rações para animais, que foi desativada no final da década de 1980. Nos primeiros anos, os moradores eram ex-trabalhadores da fábrica.
Mas o terreno é alvo de disputa há anos, tendo sido controlado pela Rede Ferroviária Federal, que depois foi a leilão por dívidas da empresa e chegou a alguns empresários, mas que não concluíram a compra, segundo reportagem da BBC.
Em 2008, a associação de moradores da Favela do Moinho entrou na Justiça para permanecer no terreno por usucapião, tendo garantido a posse do terreno, mas a ação ainda não foi julgada.